30.6.06

Inteligentsia comum...

Imenso campo verde. Paisagem colorida pelo movimento vermelho e amarelo da euforia tremulante. Olhares atenciosos, contemplativos. Que não se cruzam, que tem um ponto em comum, uma fixação, um referencial branco como a órbita dos olhos que giram atrás do objeto posto em movimento em um gramado machucado pelas passadas determinadas e ligeiras. O futebol e seu país: parado para ver o jogo de eternos rivais. E me deparo com uma multidão atenta a uma pequena tela colocada no antro da intelectualidade nacional, em seu refúgio. Chego na hora decisiva: são os penaltis! Estranheza!!! Gritos pela Argentina?!? Não compreendo... No país do futebol, se torcendo para os maiores rivais? Mas me lembro de onde estou: na casa da inteligentsia brasileira. Questiono aos torcedores ávidos de nossos hermanos e as respostas são teorias longas sobre dominação européia e solidariedade latina, até para aversão ao nazismo apelaram! Tentativas racionais de explicar a arte do futebol: tentativa de explicar o inesperável, o incerto. Talvez fossem apenas explicações vazias que tentassem esconder a vontade infinita da intelectualidade de se diferenciar das massas... Se no domínio do senso comum, por todas as ruas e bares do país, se torce pela derrota argentina, a intelectualidade tem que mostrar seu caráter sagrado, seu distanciamento crítico e racional do mundo, a Verdade por trás dos fatos, vendida por 5 paus a dúzia! Criam seu próprio senso comum, uma estrutura quase inversa àquela que opera pelas ruas. Depois se queixam do fracasso de suas ações, de seus planos. Planejam o mundo a partir das próprias cabeças e querem que todos sigam a Verdade, o certo, a explicação racional (mas que não deixa de ser passional), que sempre quer ser a diferença, que quer alimentar o ego das individualidades vaidosas, dos malabares da razão. Racionalismo por racionalismo fico com o do futebol alemão, aplicado e tático. E não para cair no braço da população, mas também não para negá-la. Hipocrisia por hipocrisia, fico com a minha. Não negarei alguém a quem depois pedirei a vida, em uma batalha tramada há seculos por um velho barbudo. Vanguarda, Verdade... Vacilo, Vingança!

26.6.06

Tentativas...

UM

Todos adjetivos
são poucos
àqueles que transformam
coisas em pedaços
não posso mais
juntar

Palavras
clareza que obscurece
todo vir-a-ser
passado e futuro
adjetivados
na forma
mais concreta
das incertezas

No silêncio pleno
dos olhares
quebrado despedaçado
eternidade se esvairece
num momento
adjetivado

Na luta sem fim
contra o real
num sujeito
parcial
não em construção
por reconstruir


24.6.06

Sobre meninos e lobos... e monstros...

“a natureza dos homens é tal que, embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloqüencia ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios como eles próprios; porque vêem sua sabedoria bem de perto, e a dos outros homens à distância”.

Será que realmente precisamos dos monstros? Haverá outra saída?
Não cercear a liberdade, seja pela espada, pela moral ou pelos livros, parece o retorno a um estado hipotético...


23.6.06

Ciência: causa e efeito...

Ah, as leis da ciência! Tão exatas e previsíveis! Ação e reação, causa e efeito: nos basta calcular e descobriremos as leis que regem o universo, a vida, e tudo mais que a arrogância da lógica promete desvendar! E eis que, balizado por tal pensamento, me ponho a olhar para as situações reais e aplicar os métodos canônicos de interpretação da realidade. Merda, só merda! Nada mais do que inexatidão salta aos meus olhos. Massa sempre atrai massa? Não mesmo. Nem sempre as mesmas causas resultam nos mesmos efeitos! Atire dois corpos, um contra o outro e espere o resultado... Na observação empírica das últimas semanas o resultado tem sido bem distinto. Em uma das experiências, colisão, choque e destroços! Na outra, colisão tão suave, seguida de profunda fusão. Dois arremessos, com o mesmo ímpeto, a mesma força motriz e resultados tão distintos! Massa pode repelir massa... Exatidão? nem um pouco. Dois casos, dois resultados: dois f's proporcionais ao F da física, calculado com os joules dos arremessos! Um para o fracasso, o outro para a felicidade! Quem sabe um dia as idéias lançadas ao alto não sejam mais puxadas pela lei da gravidade e ganhem o espaço! Seja qual for e onde estiver esse espaço: ele será preenchido!

12.6.06

graduação em universidade pública...

sociólogo ou sócio-logo?

fica a questão...

11.6.06

nem da colônia... nem da metrópole...

Hoje assisti a alguns jogos da copa. Há dias atrás eu andava por aí praguejando contra a copa, dizendo que num ia ver os jogos e blá blá blá! Mas, como tudo que se desmancha no ar, a rigidez da personalidade fragmentada deu lugar à simplicidade de uma manhã de domingo. Enfim, deixarei de enrolação e vamos aos jogos: México 3 a 1 no Irã e Portugal 1 a 0 em Angola. Jogos feios, que não empolgaram, mas que me ajudam a pensar. Parece estranho, mas tanto Portugal quanto México entraram como grandes favoritos em campo e decepcionaram. Portugal até começou bem, mas depois não fez nada! O México, ao contrário, só embalou depois da metade do segundo tempo. É, não tiveram o tempo certo! O tempo administrado, a velocidade das reações e das ações, suas dimensões. Não se mostraram donos do jogo: não tinham controle da situação. Então, do que serve uma vitória decepcionante quando o que esperam de você é muito mais do que isso? Onde reside a vitória real? Em 86, a vitória foi moral, mas de que serve? Não levamos nada pra casa! 94 ao contrário foi real, mas foi feio! Perder mesmo quando se ganha e ganhar quando se está perdendo. Aliás, o que é ganhar? Levantar cada manhã com o sentimento de satisfação e plenitude e olhar pela janela um mundo acinzentado ou lutar até o fim sabendo que a vitória é impossível; que as idéas e as coisas se descolam com um simples sopro do destino (ah, essa entidade abstrata à qual recorremos quando estamos sem ação, sem pensamento! Comodismo!). De que nos servem as vitórias pífias quando se sabe que mais a frente se encontrará um grande monstro, onde a derrota é certa e inescapável? Pararemos? Creio que não. Mas, também não entendo por que continuamos. Sempre queremos enganar os monstros, controlar as situações. Sempre falhamos e no fim a decepção alheia recai sobre o melhor que fizemos!

10.6.06

The man in the box

Mas o que leva alguém a criar um blog? Pode parecer uma atitude tão ridícula, um exibicionismo barato da vida e do pensamento... Um blog; um espaço para expor o que se passa anonimamente. Expor coisas pra quem você nem conhece e, mesmo que conheça, você dificilmente saberá quem viu suas postagens, os fragmentos de sua vida. Fragmentos publicados e registrados virtualmente. Como se a vida fosse um grande brain storm de acontecimentos escolhidos aleatoriamente. Fragmentação da própria personalidade. Brain storm... delírio... loucura... Ah! Um blog... uma caixa onde se deposita o que não se fala com ninguém, onde se deposita a pessoa que está no limbo, o caos, a falta de referência! Assim é melhor: escrever o que vier à mente sem se preocupar com a lógica formal, com o posicionamento de seres em relação. Aqui tudo parece livre: as idéias, as palavras, as pessoas. Liberdade em uma caixinha. Prendamo-nos na menor das caixinhas em que pudermos caber! Só assim seremos livres! Liberdade é auto-suficiência, é utopia! Ninguém é em si. Os seres se fazem na relação. Prendamo-nos nas nossas caixinhas! Cada vez mais solitárias e intolerantes: nos universos paralelos que habitam um mesmo mundo. Onde a objetividade não é mais base de nada! Ah o Simbolismo! Viva as idéias, a exposição! Quem precisa de pessoas de verdade? Talvez precisemos apenas de caixas onde a nossa loucura nos basta!