29.9.06

The dark side...

Quantas pessoas ainda teremos que representar? Quantas personalidades teremos que confrontar? Quantas máscaras terão que cair? Cada sorriso colado na cara, cada tristeza estampada, cada angústia sufocada...

Quem você é?
Não sei.
O que você sente?
Não sinto
.
O que você quer?
Talvez.

Como saber o que fazer, caro Vlad, nestes tempos tão fragmentados? Como saber o que querer entre tantas possibilidades não apresentadas? Como saber o que representar?
Cada personagem tem sua peça, mas as histórias são diferentes. Cada ator é o ego de seu umbigo; a melhor representação que se pode fazer de si mesmo, sem saber o que se é.
Brincar de ser seus próprios heróis é confortante. Te transforma no vilão de sua própria existência, no ator das mentiras afirmadas veementemente, até que a última gota da loucura caia sobre o palco das grandes encenações. Os heróis fazem os vilões, as mentiras edificam as verdades. Os atores terminam suas peças, as peças terminam com seus atores. Os autores andam escondidos dentro da cabeça de cada um que planeja ser dono de sua própria atuação. Mas o controle parece estar com a platéia. A platéia que também é feita por atores que atuam suas perspectivas. O ator só é ator para si mesmo, autor de sua própria ação. Para sua platéia, ele é a platéia. Recebe a atuação de quem o vê.
As atuações determinarão o grand finale das peças. O palco de cada ator verá as cortinas se fecharem. Ele e o fim de sua grande encenação se afastam do teatro que se encerra do outro lado do pano negro. Os holofotes se apagam, o camarim é solitário. Será que atuamos sós?

As portas se fecharam e as chaves foram jogadas fora.
Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu!


16.9.06

Que fazer?

Uma vez um carinha escreveu um livro chamado "Que Fazer?".
Assim como o Silvio Santos nunca vê os filmes dos quais ele fala, eu também não li este livro, mas me falaram (e não foram minhas filhas, seja lá qual for o número delas, até mesmo porque não as tenho) que tinha a ver com os destinos da humanidade e essas coisas mega-importantes.
Então, naquela época, acho que ele já estava preocupado com alguns problemas que poderiam completar humanisticamente tanto ele quanto as pessoas com quem ele convivia. Mas talvez não pensasse que o que ele pensava poderia danar com a vida de um monte de gente... ou pensava e achava que era um mal necessário. Mas, mesmo que pensasse, ainda achava que era um mal necessário, ou até mesmo um acerto de contas. Não importava o que acontecesse com os outros, havia coisas que eram importantes, projetos a serem realizados, e as subjetividades alheias não poderiam atrapalhar.
Daí, a gente olha pro nosso mundo e vê projetos, bem como possibilidades. E nos perguntamos: que fazer? E é óbvio que não é fácil escolher. Pois existem as coisas que são mais prováveis e as que não são tão certas assim, pelo contrário. Que fazer? Se arriscar pelas trilhas mais espinhosas? Percorrer o caminho mais fácil, mas nem por isso conhecido? Olhar para o que se coloca na sua frente? Ou para o que se coloca longe no horizonte? Alcançaremos o que está ao longe? Ou é só uma miragem?
Como diria um outro cara que cita outros caras, "o certo é o fácil e o fácil é o certo", ou então, "o excelente é inimigo do bom". Como saber o que realmente é fácil, bom, excelente ou certo se tudo depende dos caminhos a trilhar e que ainda estão fechados pelas incertezas? Como lidar com as subjetividades se nem sabemos quais suas intenções? Como saber se alguém também liga para nossas subjetividades? Como realizar os projetos? Como ter certeza que o que parece mais fácil é o mais fácil? Que o mais distante é irrealizável?

BOOOOOOOOOOM! Cansaço.

Dúvidas lançadas, façam suas apostas, mas calculem as possibilidades. Os conselhos ajudam, mas confundem.
Quando se está certo de algo, e alguém te convence em olhar para o outro lado, é um sinal de que não se estava tão certo assim? Ou seria de que o mundo não é uma esfera ideal traçada sobre uma linha reta?
Como se lançar às ofensivas sem destruir o outro? Há guerras sem perdedores? Há embates sem discussões? Há simetria de relações? As estruturas se invertem, a entropia nos consome. Os males são necessários? Os projetos tão importantes? Quem se importa? Eu me importo. Vale a pena se lançar às incertezas?

A dramatização é genial!

3.9.06

Pensamentos e olhares...

Às vezes, se quer desabar. Parar de ver o mundo rodando, independente da força que se faz contra seu movimento. O pensamento arquiteta tudo o que se quer, ao mesmo tempo em que calcula o que não se pode ter. As procuras são sem sentido: só se sabe a forma, mas não o conteúdo. Mas mesmo assim, a procura continua. Mesmo sabendo que existem coisas que não se procura, ela não cessa.
O mundo, ah, este continua seu movimento. E o olhar que parece alheio a tudo só queria participar da festa, poder fazer um pouco da força que ajuda a pôr o mundo em sua trajetória aleatória, alienante. O olhar que queria se traduzir em ação. Em dar à forma a sua substância. O olhar que já não sabe para onde mirar, mas que procura qualquer ponto onde possa repousar. Busca criar um repouso qualquer, mas logo sua concentração é quebrada por um movimento ligeiro que desvia sua atenção para um outro ponto. E assim, de ponto em ponto, o olhar vai se perdendo. Olha para trás e lamenta, olha para os lados e se perde, e, por mais que tente, não consegue olhar para frente. Não tem um ponto posto ao qual se concentre sem precisar virar a cabeça, sem perder a atenção. Perde-se em cada ponto que tenta eleger como referência. Sabe que essas coisas não se inventa. Mas, também sabe que não pode esperar que as coisas entrem no seu campo de visão; também tem que procurar pelo que quer ver.
E o olhar já não sabe onde está. O pensamento toma suas rédeas, ora incentivando-lhe, ora deseludindo-lhe. Também o traz à realidade. Tira-lhe das idealizações que costumeiramente constrói. E, quando o pensamento falha, a experiência se encarrega de mostrar quão cego é o olhar. Mostra o ponto que não é. A linha torta sobre a idéia reta. A realidade sobre a idealização.
E nessa briga, o olhar novamente se perde. Precisa de seu ponto, mas este lhe escapa. Quando acha que o encontrou, ele foge. Depois, já não quer mais o ponto. Tem medo de focar, sabendo que mais uma vez pode ser uma ilusão, e não só de ótica. Mesmo quando acha que deve focar, não o faz. Talvez porque a nitidez seja impossível, talvez porque o olhar é pequeno demais para o que se quer observar...

2.9.06

Dos confins aos fins...

Rima pobre. A fila não anda.
Estagnado; amargar a última posição.
Correndo a favor de tudo que é contra.
Topando, batendo, passando, relando, trombando.
Onomatópeias dos sentidos espalhados na cabeça vaga,
no peito curvo, na alma desesperançada.
Temas recorrentes, repetições enfadonhas.